Comunicação Política
04-04-2016

O desafio de Pedro Passos Coelho

LUÍS PAULO RODRIGUES

Os partidos políticos estão cada vez mais fechados sobre si próprios, sem grandes ideias políticas, esperando pelo erro de quem governa, o que se lamenta. No congresso do Partido Social Democrata (PSD), que decorreu neste fim de semana, em Espinho, o seu presidente, Pedro Passos Coelho, reeleito pela quarta vez, demonstrou isso mesmo. Desde logo por ter escolhido para uma das vice-presidências do partido a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que agora é deputada e trabalha para um grupo financeiro internacional, especializado na compra de dívida, com negócios no setor financeiro português, o que configura uma situação que, embora não ferindo a lei vigente, é moral e politicamente incompatível.
Pedro Passos Coelho falou, sobretudo, para o “aparelho” do partido, expressando-se no registo hermético que os militantes e dirigentes entendem, dizendo-lhes que vão ter que esperar para regressar ao Governo. E falou menos para o país. As questões da reforma da Segurança Social e da revisão da Constituição, anunciadas como bandeiras do PSD na oposição, não são novas e não são populares.
Dedicando muito tempo a justificar ações do seu Governo, que, não obstante o mérito de ter retirado Portugal do espectro da bancarrota, foi sempre um Governo frio, aparentemente zangado com os portugueses e insensível ao seu sofrimento, Passos Coelho falou demais sobre o passado, sobre os mercados, as dívidas, os juros, o FMI, o dinheiro caro ou barato, os resgates financeiros. Não trouxe uma novidade, uma ideia mobilizadora para o futuro. E esqueceu-se de falar ao coração dos portugueses, apontando-lhes um caminho, numa linguagem simples que eles entendam. Um problema de comunicação, que permanece.
Mais do que uma vez ao longo do congresso, talvez para que não restassem dúvidas, Passos Coelho reconheceu a óbvia legitimidade democrática do novo Governo, liderado pelo Partido Socialista (PS), com o apoio parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Comunista Português (PCP), os partidos mais à esquerda no espectro político português. Até chegou a dizer uma coisa impensável: que a maioria das esquerdas que governa Portugal "é consistente". Foi talvez a declaração mais forte do congresso, e improvável, por ter saído da boca do presidente do maior partido da oposição, que, até agora, sempre negou essa legitimidade ao Governo formado no Parlamento. Surpreendentemente, o líder do PSD também não teve uma palavra suficientemente vigorosa para atacar as ditas contra-reformas promovidas pelo Governo de António Costa, que tantos amargos de boca e votos terão custado ao anterior Governo do próprio Passos Coelho.
Neste contexto, não estou a ver Pedro Passos Coelho politicamente reforçado após o congresso. Na prática, saiu como entrou. É líder sem oposição que tivesse ido a jogo porque o “aparelho” do PSD, que ocupou ou ocupa a administração pública, sabe que Passos Coelho teve quatro anos de Governo muito difíceis, no auge da crise da dívida soberana e europeia, após os desvarios socialistas, e que, ainda assim, ganhou as eleições de 2015, ao fim de uma legislatura de quatro anos, sem, contudo, ter tido condições parlamentares para formar maioria para governar.
Ora, neste momento, o maior desafio de Pedro Passos Coelho, para sobreviver na oposição, não é ganhar as eleições municipais do próximo ano. O seu grande desafio é vestir uma capa de líder da oposição que lhe sirva na perfeição, com uma narrativa de esperança que motive os portugueses e que seja pontuada pela crítica certeira, sem soar a revanchismo. Porque isso ainda não aconteceu neste congresso. E não é fácil, sobretudo para um político que foi primeiro-ministro durante uma legislatura difícil, que durou mais de quatro anos. De qualquer modo, ou Passos Coelho consegue fazer essa transformação política até às eleições municipais, em finais de 2017, ou não chegará líder do PSD às próximas eleições para o Governo. De resto, alguns possíveis protagonistas ou promotores de eventuais projetos políticos alternativos na liderança do partido, como José Eduardo Martins ou Pedro Duarte, foram ao congresso precisamente para marcar terreno.
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