Obituário
08-03-2013

O fabuloso legado de João Rocha (1930-2013)

LUÍS PAULO RODRIGUES

Se o Sporting Clube de Portugal teve presidentes que contribuíram para a crise de imagem nacional e internacional do clube, comunicando para o exterior maus exemplos de gestão desportiva e financeira, como fizeram, nos últimos anos, José Eduardo Bettencourt e Godinho Lopes, também é verdade que teve outros dirigentes que engrandeceram o clube e foram fundamentais para o seu crescimento e para a sua projeção em Portugal e no mundo. João Rocha (1930-2013), que morreu nesta sexta-feira, aos 82 anos, é um desses homens que deixa um legado inesquecível para toda a nação sportinguista, tendo feito do Sporting aquela que é considerada a maior potência desportiva portuguesa.

Com o seu trabalho de expansão do clube, um trabalho de autêntico serviço público desportivo, João Rocha promoveu o Sporting Clube de Portugal e o desporto português como nenhum outro dirigente em Portugal, pela grandeza e ecletismo da sua obra desportiva, apostando no desporto profissional e no desporto amador, envolvendo as famílias em torno do clube, como aconteceu através da natação e da ginástica.

João Rocha foi presidente do grande clube português entre 1973 e 1986. Neste período, a equipa profissional de futebol conquistou três campeonatos nacionais, três Taças de Portugal e uma Supertaça. Foi também neste período da presidência de João Rocha que a equipa obteve o melhor resultado na então Taça dos Clubes Campeões Europeus, atual Liga dos Campeões, tendo atingido os quartos-de-final. Para mim, e para muitos sportinguistas, João Rocha foi o melhor presidente da história do clube.

O seu trabalho e os resultados falam por si. João Rocha promoveu obras emblemáticas como o fecho das bancadas do antigo Estádio José Alvalade, a construção da pista de tartan e dos pavilhões. Nas modalidades, durante os seus mandatos, também conseguiu amealhar títulos e distinções que, em termos internos e individuais, culminariam com o seu reconhecimento com o Prémio Stromp, que recebeu por três vezes.

Em 2012, o clube aprovou por unanimidade a atribuição do nome de João Rocha ao futuro pavilhão do clube, a inaugurar em 2017. Nas diferentes modalidades que ajudou a promover, o clube somou, nos seus mandatos, 1200 títulos nacionais, 52 Taças de Portugal, 8 Taças dos Campeões Europeus de Corta-Mato, uma Taça dos Campeões Europeus de Hóquei em Patins, modalidade na qual o clube também ganhou, durante a sua gerência, mais duas Taças das Taças e uma Taça CERS. Nas modalidades, o clube assumiu-se na altura como um emblema abrangente e eclético, contando 15.000 atletas em 22 modalidades.

João Rocha nasceu a 9 de Julho de 1930, em Setúbal. Tornou-se empresário e assumiu a presidência do Sporting no meio de uma crise diretiva, a 7 de Setembro de 1973. Quando abandonou o clube, por razões de saúde, em 3 de Outubro de 1986, deixou o clube com mais de 130 mil sócios.

O Sporting Clube de Portugal caiu na crise de sobrevivência em que atualmente se encontra porque, desde 1986, não teve mais nenhum presidente com as qualidades e o carisma de João Rocha. Um presidente que só não conseguiu ganhar a Pinto da Costa a guerra pelo controlo do futebol português, fracasso imortalizado pela sensacional transferência do jovem craque da formação leonina Paulo Futre para o FC Porto uma espinha ainda hoje atravessada na garganta de muitos sportinguistas. O episódio dessa transferência, aliado ao despedimento precipitado do treinador inglês Malcolm Allison, no início da temporada 1982-1983, após o técnico ter ganho o campeonato e a Taça de Portugal, foram talvez os momentos menos brilhantes do grande dirigente do Sporting Clube de Portugal.
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