Imprensa
03-01-2017

Revistas “Flash!” e “Cosmopolitan” fecham edições impressas

LUÍS PAULO RODRIGUES

O ano de 2017 não começa nada cor-de-rosa no universo da imprensa portuguesa feminina e de lifestyle. A “Cosmopolitan”, de periodicidade mensal, fecha as portas neste mês de janeiro. E a "Flash!", da Cofina, migrou para o espaço digital.

 A edição portuguesa da "Cosmopolitan" era editada pela G+J Portugal desde 2010, cujos responsáveis justificam o fracasso com a saturação do mercado. A editora ainda é responsável também pela revista “Super Interessante”, que passa a ser o seu único título.

“A Cosmopolitan chegou ao fim. O mercado está saturado e não vale a pena insistir”, afirmou João Ferreira, diretor-geral da editora, em declarações prestadas ao portal de economia Dinheiro Vivo (ver aqui: goo.gl/0FzKbp).

A razão para o fim da publicação parece ser comum a todos os títulos que fecham as portas: a quebra do investimento publicitário que não foi compensado pelas receitas na edição digital.

Tendo em conta que as áreas de eleição da “Cosmopolitan” são moda, beleza, saúde, amor, sexo e lifestyle está fácil de entender a derrocada comercial de uma revista que desde a última década do século passado era o sonho de consumo das jovens leitoras portuguesas, por permitir o acesso a informação que não encontravam nas publicações existentes no mercado.

O problema da edição portuguesa da “Cosmopolitan” é fácil de explicar: na Internet não faltam sites e influenciadoras digitais com conteúdos suficientemente úteis para as leitoras-tipo da revista. No Youtube não faltam canais com conteúdos de qualidade seguidos por milhões de jovens em Portugal e em todo o mundo. E esses conteúdos vão ter com as leitoras, por e-mail, ou passam no ecrã do computador pessoal ou do telefone celular através das redes sociais.

E não se pense que o “Cosmopolitan” é caso único. A revista semanal “Flash!”, do grupo Cofina, criada há 13 anos para concorrer com a “Nova Gente” e a “VIP”, acabou como revista impressa no dia 29 de dezembro e migrou para o mundo digital com um novo site. Em comunicado, a Cofina não assumiu o fracasso e conseguiu vislumbrar vantagens para os leitores: “Esta alteração irá proporcionar aos leitores da 'Flash!' um acesso contínuo às melhores informações de sociedade, dando conta ao minuto do que mais lhes interessa e permitindo que os mesmos partilhem esses conteúdos através das plataformas sociais.”

O diagnóstico está feito há muito: as marcas e as organizações começaram a comunicar diretamente com os seus públicos nas redes sociais e deixaram de fazer publicidade nos meios de comunicação tradicionais. Sem receitas publicitárias, os meios de comunicação reduzem pessoal, perdem os profisissionais mais qualificados, deixam de produzir conteúdos de qualidade, perdem os leitores e entram em decadência.

Em função deste quadro, os títulos de jornalismo, se quiserem sobreviver, só têm um caminho: apostar em jornalistas qualificados para poderem produzir conteúdos exclusivos e de qualidade e venderem esses conteúdos a um preço mais alto, tanto na edição em papel como na edição digital. Só a qualidade gera valor.

Enquanto jornais e revistas continuarem a publicar aquilo que já lemos na Internet e que todos publicam ao mesmo tempo, atropelando-se uns aos outros, as edições em papel vão continuar a fechar as portas. Ao mesmo tempo, caso se mantenha o cenário atual, as edições digitais não se tornam suficientemente interessantes, nem produzem valor para o público de modo a gerarem assinaturas pagas.

Sendo claro, não basta migrar o título para o espaço digital para resolver um problema de custos e de falta de interesse dos leitores pelo meio impresso. Se um meio de comunicação dava prejuízo na edição impressa, não irá gerar assinaturas pagas no espaço digital se não conseguir melhorar a qualidade do seus conteúdos, diferenciando-se da concorrência para resolver os problemas dos leitores. Sim, os leitores compram um jornal ou uma revista para resolverem um problema. Da mesma forma que compram um par de calças, um livro ou um perfume.
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