Jornalismo
24-10-2016

Títulos, textos, sons, imagens e perceções mediáticas

LUÍS PAULO RODRIGUES

Em jornalismo, a hierarquização da informação é um exercício de ordem eminentemente subjetiva. Na redação de uma notícia, essa subjetividade atravessa toda a notícia, desde a escolha do título, elemento que é considerado muito importante para chamar a atenção do leitor, ao conteúdo do corpo da notícia.

O ângulo de abordagem do assunto noticiado, o ordenamento dos dados, a escolha das palavras, o destaque dado ou não à declaração de uma fonte e a maior ou menor importância de uns dados da notícia em relação a outros são escolhas subjetivas do jornalista.

As perguntas feitas numa entrevista ou as frases do entrevistado escolhidas para a peça da televisão ou da rádio também resultam de escolas subjetivas. Assim como as declarações escolhidas para a notícia redigida e impressa ou difundida digitalmente.

Do mesmo modo, o ângulo de uma fotografia é uma escolha subjetiva do fotojornalista no momento em que faz o seu trabalho de recolha de imagens no terreno. E a escolha da imagem a lançar no espaço público para ilustrar um trabalho jornalístico resulta de uma escolha subjetiva do editor de fotografia ou do próprio jornalista que redigiu a notícia – o que depende da organização da redação do jornal, da televisão, da rádio ou do portal de notícias.

É a subjetividade que caracteriza o trabalho do jornalista que contribui para estabelecer algumas diferenças entre os conteúdos dos diferentes meios de comunicação. Podemos, assim, afirmar que o jornalismo é um processo subjetivo. A imagem que ilustra este texto é extraordinária porque nos mostra até onde a subjetividade no campo jornalístico pode ir. Na verdade, uma coisa é a realidade, o que aconteceu de facto ou o que foi dito pelos protagonistas de um acontecimento público, e outra coisa é a representação dessa realidade filtrada pelos meios de comunicação. O problema é que é essa subjetividade que molda o nosso pensamento e a opinião que temos dos acontecimentos públicos ou das decisões de um Governo ou de um tribunal quando noticiados pelos meios de comunicação.

Esta questão é muito importante, porque meios de comunicação diferentes escolhem títulos e fotografias diferentes para as suas matérias jornalísticas, os quais geram perceções distintas na opinião pública. Isto acontece não só no jornalismo dos jornais impressos, mas também no jornalismo das rádios, das televisões e dos meios digitais.
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