Televisão
12-06-2016

A rainha de Inglaterra na RTP

LUÍS PAULO RODRIGUES

O canal 1 da RTP transmitiu em direto a “Parada dos 90 Anos da Rainha Isabel II” de Inglaterra, evento que ocupou a emissão do principal canal público português na manhã deste sábado, 11 de junho.

Sendo Portugal um país de regime republicano, desconheço que critérios de programação presidiram à decisão da televisão estatal de transmitir em direto o evento real – cuja difusão apenas terá servido para propagandear a representação do poder monárquico de uma das principais monarquias do mundo.

Parece claro que essa transmissão não foi guiada pelos princípios que balizam o serviço público de televisão em Portugal. Porém, penso estarmos perante um tipo de evento cuja transmissão em direto seria indiscutível numa estação de televisão privada.

Só consigo compreender a transmissão em direto da festa da rainha de Inglaterra no principal canal público, durante cerca de três horas, numa lógica de guerra pelas audiências televisivas e por ser um produto barato, captado através da BBC, garantindo, ao mesmo tempo, o entretenimento de uma audiência fascinada pelo glamour e pelos rituais da nobreza britânica.

A transmissão da RTP até pode ter desempenhado o seu papel de difusão da cultura monárquica europeia, mas com os narradores Margarida Mercês de Mello e João Figueirôa Rêgo a dizerem que o evento proporcionava "imagens muito bonitas" e que "a monarquia está em alta", entre outros louvores ao regime monárquico britânico, mais parecia estarmos a assistir a uma operação de propaganda, nada própria de um canal público de um país que até é republicano.

Por isso, a transmissão da parada dos 90 anos da rainha de Inglaterra na RTP não me pareceu um programa de interesse público, mas do interesse do público, o que é diferente. Não foi um programa de serviço público, mas um programa de serviço político à monarquia britânica e europeia pago com o dinheiro de todos os portugueses.
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