Pedro Santana Lopes
Comunicação Política
26-12-2017

A ressurreição de Santana Lopes

LUÍS PAULO RODRIGUES

Em 2004, Pedro Santana Lopes assumiu a liderança do Governo de Portugal sem eleições, na sequência da saída de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia, e foi trucidado no espaço público mediático por alegadas “trapalhadas” do seu Governo.

Embora fosse vice-presidente do PSD, Santana Lopes não tinha a legitimidade política que só o voto popular confere, apesar de a coligação de direita PSD-CDS, então, possuir maioria parlamentar na Assembleia da República. A verdade é que o Governo de Santana durou poucos meses e acabou na sequência da dissolução da Assembleia da República decidida pelo Presidente da República, Jorge Sampaio.

Santana ainda foi a eleições, mas estava muito fragilizado e perdeu o combate eleitoral de 2005 no confronto com o socialista José Sócrates, que, anos antes, fora seu antagonista num programa de comentário político na RTP.

Derrotado nas urnas naquele que foi um dos piores resultados de sempre do PSD, Pedro Santana Lopes passou, então, a ser um homem só (ou uma criança abandonada na incubadora, para citar uma metáfora que o próprio chegou a utilizar na campanha…), junto do qual ninguém gostava de ser fotografado, depois de um Governo marcado por “trapalhadas”, para utilizar um vocábulo muito querido da imprensa da época.

Doze anos depois tudo se alterou nas vidas de Sócrates e Santana. Enquanto Sócrates é uma sombra negra dos tempos luminosos em que liderou a governação do país, sendo acusado na justiça por uma chusma de crimes de corrupção, Pedro Santana Lopes, que, paulatinamente, já tinha deixado de ser um homem só, disputa a liderança do PSD, demonstrando, como diz a sapiência popular, que, na vida, há mais marés que marinheiros.



As coisas mudaram porque Santana Lopes sempre andou por aí, como prometeu. E soube aproveitar a primeira oportunidade que lhe surgiu para ressurgir politicamente, a qual aconteceu na noite de 26 de setembro de 2007, curiosamente, num estúdio de televisão.

Aliás, tinham sido também as imagens da televisão que tinham ajudado à sua flagelação política nos tempos em que tinha liderado o Governo, nomeadamente quando o país viu o primeiro-ministro a tomar posse e a ler um discurso escrito com as folhas trocadas – um momento que seria o prenúncio de outras “trapalhadas”.

Mas em 2007, três anos depois, ao comentar na televisão a crise política que atravessava o PSD, tudo se alterava. Ao ter sido interrompido pela jornalista Ana Lourenço, na “SIC Notícias”, para dar lugar a uma "reportagem" em direto, por causa da chegada do treinador de futebol José Mourinho ao Aeroporto de Lisboa, Santana respondia com o abandono do programa de informação e começava, então, a ganhar o respeito dos jornalistas. Foi o dia da ressurreição política de Pedro Santana Lopes. Veja o vídeo: https://youtu.be/3SFwLNA8Ceo.

Desde o momento em que abandonou o estúdio da “SIC Notícias” até hoje, Santana Lopes demorou 10 anos até regressar à ribalta no PSD, disputando agora a liderança do partido com Rui Rio.

Ao explicar à jornalista Ana Lourenço por que é que abandonava o programa em que estava a ser entrevistado, Pedro Santana Lopes começou a ganhar uma nova vida política, começando por surpreender a classe jornalística, já que a sua atitude foi absolutamente contrária a anos e anos de cumplicidade com jornalistas e meios de comunicação.

Este episódio demonstra claramente que os meios de comunicação – e em especial a televisão –, tanto podem desfazer como refazer a reputação de um agente político.

"A vida já me ensinou que na política pode-se morrer muitas vezes", afirmou Santana Lopes numa entrevista, em Dezembro de 2016.
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