Perguntas & Respostas
12-05-2016

Luís Paixão Martins. “Nunca compro jornais em papel”

LUÍS PAULO RODRIGUES

Luís Paixão Martins, o maior empresário de comunicação em Portugal e um dos comunicadores mais influentes do país, fundador da LPM Comunicação, que acaba de abrir o Newsmuseum, em Sintra, é o primeiro entrevistado da secção “Perguntas & Respostas”, um espaço de entrevista a profissionais de comunicação, que inauguro no blogue COMUNICAÇÃO INTEGRADA.
Luís Paixão Martins teme que a guerra em torno do financiamento do ensino privado provoque a separação entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro. Aconselha António Costa a gerir a comunicação tendo em conta a possibilidade de eleições a curto prazo e diz que Marcelo Rebelo de Sousa só apostará num plano de comunicação digital quando “sentir que precisa”. Considera, entretanto, que a “opção pelo taticismo, pelo imediato” é o maior problema que se coloca à comunicação dos políticos portugueses no espaço digital.
Entusiasmado com o sucesso institucional do Newsmuseum, o seu criador ainda não sabe qual será o futuro daquele que é o primeiro museu interativo da Europa dedicado à comunicação e ao jornalismo. “Estamos numa fase de consolidação da nossa experiência”, diz.
Se esta entrevista fosse publicada somente num jornal impresso, talvez Luís Paixão Martins não a lesse, pois confessa que deixou de comprar jornais e que só lê as edições digitais.

COMUNICAÇÃO INTEGRADA (P.) – O Newsmuseum é o seu último grande projeto no setor da comunicação ou sente que ainda tem mais coisas para fazer?
LUÍS PAIXÃO MARTINS (LPM) – A abertura do NewsMuseum é um primeiro passo. Isso está claro no meu pensamento. Só não sei, ainda não sei, em que direção serão dados os próximos passos. Ou, mesmo, se serão dados por mim ou por outros. Seja como for, estamos numa fase de consolidação da nossa experiência. Nunca tínhamos realizado integralmente um projeto tão complexo e apelando a tantas competências coligadas.

P. – O que é que lhe deu mais satisfação pessoal: ter criado a LPM Comunicação, há 30 anos, ou, agora, o Newsmuseum?
LPM – Quando criei a LPM não criei a LPM atual. Criei uma assessoria mediática unipessoal – na altura dizia-se assessoria de imprensa. A satisfação profissional pelo negócio que desenvolvi veio a ocorrer bastante mais tarde. Se o mesmo princípio se aplicar ao NewsMuseum...

P. – Desde que o museu abriu, o que é que mais o surpreendeu?
LPM – Surpresa mesmo foi o êxito institucional da abertura. Ocorreu-nos que a cena teria mais graça, para nós, se fugisse às convenções. Que fosse à meia-noite, e não ao início da tarde. Que não fosse uma inauguração clássica. Que não fosse descerrada lápide, que o senhor Presidente da República surgisse como primeiro visitante, com bilhete e tudo. Enfim, tudo diferente. E, apesar disso, ou por isso, tivémos lá o Presidente, o Primeiro-Ministro, o líder da oposição, os ministros da Cultura e da Economia, o secretário de Estado da Defesa. E inúmeros amigos que são personalidades relevantes do mundo dos “media”. Foi quando confirmei em definitivo que tínhamos escolhido bem o município de Sintra para instalar o NewsMuseum e o peso político do nosso “senhorio”, o dr. Basílio Horta.

P. – Na era digital em que vivemos, a que horas do dia é o horário nobre das notícias?
LPM – Não sei. Provavelmente, não sei porque não há.

P. – Ainda sente necessidade de comprar jornais impressos diários?
LPM – Em papel nunca compro. Leio sempre as edições digitais. Demorei mais tempo com as revistas estrangeiras, mas já levaram o mesmo caminho.

P. – Os políticos portugueses estão preparados para uma boa presença no espaço público digital?
LPM – Acho que a principal caraterística do ambiente mediático atual é aquela sensação de que ele nos está a fugir. Os políticos, mesmo os mais apetrechados para o mundo digital, devem pensar o mesmo. Seja como for, a minha opinião é que o maior problema decorre da opção pelo taticismo, pelo imediato.

P. – Que qualidades é que valoriza mais num assessor de imprensa e comunicação?
LPM – Conseguir dirigir um trabalho em equipa. Isso é essencial para mobilizar os vários recursos, as diversas competências necessárias para os projetos atuais, os quais são, por regra, muito complexos em termos de públicos, plataformas e canais.

P. – Que conselho de comunicação daria ao Primeiro-Ministro, António Costa?
LPM – Conselho profissional, claro. Que faça uma gestão político-comunicacional sempre adaptada a um potencial momento eleitoral a curto prazo.

P. – Quem vai ganhar a guerra mediática no caso dos cortes ao financiamento público das escolas do ensino particular?
LPM – A guerra mediática do curto prazo será ganha pelos adversários da contratação com privados. Temo, no entanto, que esse movimento acarrete o início de uma separação do Governo de António Costa com o Presidente da República e o afastamento de grupos importantes de partes interessadas e de eleitorado.

P. – Até quando é que o Presidente Marcelo poderá ignorar a comunicação no espaço público digital, estando ausente das redes sociais?
LPM – Até sentir que precisa.

Obs. Na imagem, Luís Paixão Martins entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, na inauguração do Newsmuseum, na madrugada de 25 de abril de 2016.
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