Os media e a interação com os públicos
Jornalismo
20-11-2015

Os "media" e a interação com os públicos

Ao permitir a interação de todos com todos, através das redes sociais, a Internet acabou com o poder discricionário dos velhos meios de comunicação de massa, nomeadamente o jornal impresso. E proporcionou a todas as pessoas a possibilidade de terem opinião e de poderem manifestá-la publicamente no espaço mediático, no que diz respeito, por exemplo, aos conteúdos que jornais e outros meios de comunicação divulgam em permanência.

É evidente que há pessoas que não gostam desta emergência do povo na ação de opinar em pé de igualdade com todos os opinadores. Ainda recentemente, ao receber o título de doutor “honoris causa” em comunicação e cultura, na Universidade de Turim, o escritor italiano Umberto Eco declarou que “o drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a detentor da verdade”. E lamentou que as redes sociais tenham dado o direito à palavra a uma “legião de imbecis” que, antes destas plataformas, apenas falavam nos bares, depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade.

No processo de interação gerado na Internet, em particular nas redes sociais, as pessoas escrevem e podem ser lidas por todos. Se são grosseiras ou não, isso determina o seu grau de formação e educação. E tal como acontece na rua, também no espaço digital a seleção dos vários grupos sociais é feita naturalmente.

A grande mudança no jornalismo, no que toca à relação dos leitores com os jornais, foi esta: no passado, os leitores escreviam cartas para o jornal impresso que iam para o caixote do lixo, quer por falta de espaço para publicação – uma justificação plausível que servia em quase todas as circunstâncias –, ou por falta de “interesse público”, mediante os critérios estabelecidos pelo jornal para publicação de cartas dos leitores – uma justificação sempre subjetiva.

Aliás, a criação da secção das cartas dos leitores fora justamente a primeira grande manifestação da interação, feita em maior ou menor grau, consoante o critério, também discricionário, de cada meio de comunicação. Agora, os jornais divulgam notícias e os leitores reagem na hora e são lidos por todos.

Na rádio, por exemplo, essa interação com os ouvintes começou por acontecer com os programas de discos pedidos. Era nesse espaço que o público pedia a música que queria e poderia manter um curto diálogo com o animador.

Obviamente, quem não conheceu outra realidade que não seja a realidade digital em que vivemos, falar em discos pedidos na rádio soa um pouco a conversa das cavernas comunicacionais. Felizmente, hoje, cada um de nós ouve o que quer à hora que quer e onde quiser, sem incomodar ninguém. Graças à Internet, evidentemente.
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