Jornalismo
08-11-2016

Uma grande notícia vinda de Bruxelas

LUÍS PAULO RODRIGUES

“Deixem-me apenas dizer que sobre o tema da dívida de Portugal não discutimos isso, não vamos discutir isso, porque Portugal é capaz de lidar com a sua própria dívida.”

Esta declaração, proferida nesta terça-feira, 8 de novembro, pelo presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, foi talvez a declaração mais positiva para a economia portuguesa vinda de Bruxelas na última década. Até o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, veio a público sublinhar a boa nova.

No entanto, para os meios de comunicação portugueses, parece que nada se passou. Como Dijsselbloem não anunciou nenhum desastre, a grande notícia não está a ser tratada com importância. E é pena, porque isso revela uma imprensa que não está interessada no país ou que parece alheada dele.

Durante vários anos, as más notícias sobre a crise económica e o problema da dívida pública em Portugal abriram espaços de notícias nas rádios, nas televisões, nos jornais e nos portais de notícias da Internet. Foram horas e horas de más notícias, que geraram uma perceção popular muito má sobre o país, sobre a Europa e sobre o futuro de todos.

Porém, os mesmos meios de comunicação que ampliaram as más notícias parecem agora pouco dispostos a ampliar as boas notícias.

Tenho para mim que a declaração de Jeroen Dijsselbloem é de grande importância para a confiança do país e dos mercados. E para a autoestima dos portugueses. Tanto mais que se trata do mesmo indivíduo que, há alguns meses, ficou “desiludido” com a falta de sanções a Portugal pelo incumprimento das metas do défice em 2015. Mas essa perceção positiva sobre a economia de Portugal e as suas contas públicas não chega à maioria dos portugueses porque a declaração positiva do presidente do Eurogrupo foi escondida no interior dos telejornais e, provavelmente, vai escapar ao devido destaque de editores e diretores dos jornais.

O principal canal da televisão pública, a RTP 1, só passou essas declarações no meio de uma peça sobre Bruxelas, meia hora depois de ter começado o Telejornal. E isso não se entende, mais a mais numa televisão pública. Não por estar em causa a divulgação de uma notícia favorável ao Governo, mas por se tratar de uma notícia favorável a Portugal e aos interesses estratégicos do país.
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